quinta-feira, maio 30, 2013

Senador completa um ano asilado em embaixada brasileira na Bolívia

No aniversário de um ano da chegada do senador boliviano Roger Pinto Molina na Embaixada do Brasil em La Paz, o impasse diplomático em torno do tema está longe de uma solução. O governo da Bolívia, que acusa o líder oposicionista de mais de 20 de crimes, como corrupção e ligação com o narcotráfico, está irredutível e se recusa a conceder um salvo-conduto. Por sua vez, o Itamaraty, que continua negociando um acordo com Evo Morales, além de ver suas relações com o vizinho abaladas, é acusado internamente, e pelo próprio senador, de não fazer o suficiente para resolver o problema.

A principal possibilidade de uma mudança na situação do político a curto prazo é o julgamento de um pedido de habeas corpus, que está sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal, sob relatoria do ministro Marco Aurélio Mello. Segundo o advogado do senador, Fernando Tibúrcio Peña, a sentença poderá ser anunciada no início do mês de junho. Basicamente, ele reivindica também que a Presidência do Brasil, através do Ministério de Relações Exteriores, passe a agir mais efetivamente e não fique à espera de uma resposta positiva da Bolívia na concessão do salvo-conduto.

O pedido de habeas corpus

Em sua argumentação, o advogado Peña diz que o MRE (Ministério das Relações Exteriores), para evitar rusgas maiores com o governo boliviano, estaria fazendo “corpo mole”. “O Brasil tem ‘n’ modos de pressionar a Bolívia, que, por exemplo, quer se tornar membro pleno do Mercosul”, propõe.

Por meio de sua assessoria, o Itamaraty afirma que criou em março um grupo de trabalho bilateral para tratar do caso. “O tema nunca saiu de pauta e é tratado em nível de chanceleres. As negociações ocorrem em caráter reservado e as discussões têm avançado”. Para o MRE, exatamente pelo fato de as conversas estarem ocorrendo em nível bilateral, um eventual recurso em cortes internacionais, como defende a defesa de Pinto Molina, poderia prejudicar todo o encaminhamento das conversas.

De acordo com o advogado Pedro Serrano, especialista em Direito Constitucional, o problema da ação reside nas exigências que ela impõe ao governo, o que seria, em sua opinião, uma intervenção indevida da jurisdição na esfera do Poder Executivo. “Me parece incompatível que o habeas corpus exija condições políticas amplamente discricionárias ao Poder Executivo, que tem a ver com o exercício da soberania do Estado. Por exemplo, recorrer a cortes internacionais é um ato diplomático, não tem sentido forçar o Executivo a tomar essas medidas, ele deve ser totalmente livre para toma-las”, afirma.

Uma das particularidades desse pedido é que se trata de um habeas corpus “extraterritorial”, segundo o próprio Peña, sem precedentes na Justiça brasileira – e usa como jurisprudência casos de presos trancafiados na prisão norte-americana de Guantánamo, em Cuba. Eles tiveram seus pedidos contra abusos das autoridades norte-americanas negados após a Suprema Corte entender que, se Guantánamo se reservasse como exceção, isto “permitiria a criação de uma área sem lei, onde indivíduos poderiam ser julgados sem o controle judicial adequado, o que seria incompatível com o estado de direito”.

Esse princípio defendido por Peña é entendido por Serrano como dentro dos parâmetros constitucionais. “Como a embaixada tem soberania jurídica brasileira, a proposta não é desproposital”, afirmou o especialista.

Outro ponto mais polêmico do recurso é o pedido para se disponibilizar um carro da missão diplomática para que o senador deixe a embaixada em direção ao Peru. Segundo o entendimento da defesa, o veículo estaria protegido pela Convenção de Viena (artigo 22, inciso 3.º) e impedido de sofrer buscas, embora não tenha a mesma condição de inviolabilidade da embaixada. O Itamaraty discorda desse entendimento, dizendo que não há imunidade. Também lembra que a condição para a concessão do pedido de asilo foi o risco de morte do senador. Com o uso de um carro para chegar à fronteira, esse risco deixaria de existir. “Hipoteticamente poderia até se considerar o caso de tirar o asilo. O Itamaraty insiste na garantia de segurança para que o senador deixe a embaixada”, diz a assessoria.

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