Vinte anos depois do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo, a  ex-mulher dele decide abrir o jogo sobre esse período conturbado da história do  Brasil. Rosane Collor diz que o ex-marido mentiu sobre as relações dele com  Paulo Cesar Farias, o PC Farias, figura que comandava um esquema de corrupção  dentro do governo. Rosane conta mais: confirma que para se defender de inimigos  políticos, o então presidente Collor participava de sessões de magia negra nos  porões da Casa da Dinda, a residência oficial do casal em Brasília. A reportagem  é de Renata Ceribelli. 
Fantástico: Você tem saudade do poder? 
Rosane: O poder é efêmero, o poder um dia acaba. 
Em 1990, quando Fernando e Rosane Collor de Mello se tornaram o presidente e  a primeira-dama mais jovens do Brasil, ele com 40 anos e ela com 26, ninguém  poderia imaginar essa cena: a Rosane, que chamava atenção pelas roupas caras e  extravagantes, passando sempre a imagem de mulher poderosa, hoje se senta com a  Bíblia entre as mãos em cultos evangélicos para pedir ajuda e dar testemunhos  como esse: 
Rosane: E olha que eu tive muitos momentos em que eu disse: ‘Jesus, me leva,  aqui nessa terra eu não quero ficar mais’. 
Fernando Collor e Rosane ficaram casados por 22 anos. Há sete anos se  separaram. Agora brigam na Justiça em um processo litigioso. 
Nesta entrevista, Rosane fala pela primeira vez sobre o que viu e viveu na  presidência do ex-marido, hoje senador. São revelações inéditas, que confirmam  boa parte do que Pedro Collor, irmão já falecido do ex-presidente, disse há 20  anos, detonando o processo de impeachment, o afastamento de Fernando Collor do  poder. 
A versão de Rosane estará também num livro que ela escreve com o jornalista  Fábio Fabretti. 
“Eu me considero um arquivo vivo. E eu digo em todas as entrevistas, e  inclusive já disse na Justiça, que se algo acontecer na minha vida, o  responsável maior será Fernando Collor de Mello”, diz a ex-primeira-dama. 
Rosane conta que chegou a ser ameaçada ao decidir ir à casa de uma pastora  chamada Maria Cecília, da Igreja Resgatando Vidas para Deus. Cecília era amiga  do casal Collor, e antes de se converter à Igreja, se dedicava ao que Rosane  chama de magia negra. Nesse encontro, a pastora distribuiu uma gravação em que  revelava trabalhos de magia feitos por encomenda do presidente na Casa da Dinda,  a mansão da família Collor em Brasília. Revelações que Rosane confirmará nessa  entrevista. 
Rosane: Eu recebi um telefonema dizendo que eu não fosse a esse evento  porque, se eu fosse, eu iria, mas eu não voltaria. E eu repreendi, disse que não  tinha medo. 
Fantástico: E você acha que foi ele? Ou foi ele que te ameaçou? 
Rosane: Foi ele que ameaçou. 
Fantástico: Ele te ligou e pessoalmente te disse isso? 
Rosane: Um telefonema anônimo. Eu não sei se era ele que estava no telefone.  Eu sei que eram pessoas que falavam dizendo que ele tinha mandado ligar, dizendo  que eu não fosse para aquele culto, porque se eu fosse eu não voltaria. 
Para entender as acusações de Rosane Collor de Mello contra o ex-marido, é  preciso relembrar um dos momentos mais dramáticos da história do país. 
O ano é 1989. O Brasil está eufórico por votar para Presidente da República  depois de 29 anos sem eleições diretas. 
Fernando Collor se lança candidato como o defensor dos humildes, o caçador de  marajás, como eram conhecidos os funcionários públicos que recebiam  supersalários. 
“Vamos fazer do nosso voto a nossa arma, para retirar do Palácio do Planalto  os maiores marajás desse país”, disse em discurso na época. 
A estratégia funcionou. Collor venceu com 35 milhões de votos. Lula ficou em  segundo, com 31 milhões. 
O novo presidente assumiu em 15 de março de 1990. Pouco tempo depois da  posse, começaram a circular as primeiras denúncias de corrupção envolvendo o  nome do tesoureiro da campanha, Paulo César Farias. PC, como ficou conhecido,  era acusado de pedir dinheiro a empresários em troca de privilégios no governo.  
“Toda e qualquer denúncia tem que ser exemplarmente apurada”, declarou  Collor, em 1991. 
Em maio de 1992, estoura a bomba: em entrevista à revista Veja, o próprio  irmão do presidente, Pedro Collor, afirma que PC Farias era testa-de-ferro de  Fernando Collor. O presidente, segundo as declarações do irmão, sabia das  atividades criminosas de seu ex-tesoureiro. 
Dez meses depois, Pedro vai além. Em entrevista ao Jornal do Brasil, diz que  Collor e Rosane faziam o que ele, Pedro, chamou de rituais de magia negra. E na  própria Casa da Dinda, que era a mansão da família Collor, em Brasília. 
Hoje, Rosane conta detalhes sobre esses rituais. E relata como foi o encontro  com Maria Cecília, no dia em que teria sido ameaçada por telefone. 
Rosane: Já tem bastante tempo que ela aceitou Jesus, ela hoje é pastora, e  ela estava fazendo lançamento de um novo CD, onde ela contava todas as  experiências. 
Fantástico: Inclusive os rituais de magia negra que aconteciam. 
Rosane: Inclusive os rituais de magia negra que eles faziam, mas não com a  minha participação, porque algumas coisas eu participei, mas a grande maioria eu  não aceitava participar. 
Nesse CD a que Rosane se refere, Maria Cecília relata duas fases desse  trabalho com Fernando Collor. Uma para ele chegar à Presidência: “Foi um  trabalho muito sério. Foi um trabalho muito imundo, podre, nojento, para que se  colocasse ali, na Presidência da República, aquele homem para administrar o  Brasil”. 
Outra, com ele já presidente, nos porões da Casa da Dinda. Nesse trecho,  Maria Cecília fala dela mesma como se falasse de outra pessoa: “E ela teve que  ir para Brasília, improvisar na Casa da Dinda, lá nos porões da Casa da Dinda,  um lugar que fosse para o atendimento do marido e da esposa que estavam na  Presidência da República. E ela deu continuidade àquele trabalho por um longo  tempo”. 
Depois, Cecília confirmaria numa entrevista à revista Época a realização  desses rituais. 
Fantástico: Nesse livro, você vai contar justamente sobre esses rituais que  ele não gostaria que fossem contados. 
Rosane: Com certeza. 
Fantástico: Que rituais são esses? 
Rosane: Trabalhos em cemitérios, trabalhos muito fortes. 
Fantástico: E com animais, o que acontecia? 
Rosane: Com animais era matança mesmo. Mata galinhas, mata boi, vaca. São  animais que são sacrificados. 
Uma imagem mostra a proximidade de Maria Cecília com Fernando Collor: em  1991, ela sobe a rampa ao lado do presidente, e trocando sorrisos. A cor branca  do terno teria sido uma orientação de Cecília. 
Também por orientação dela, segundo Rosane, Collor fazia rituais com a  intenção de se proteger de inimigos políticos. Tentando fazer com que fossem  atingidos pelo mal que desejassem contra ele. 
Rosane: O Fernando fez ritual de ficar isolado, na Casa da Dinda ele ficou.  Tem um porão e ele ficou durante três dias isolado mesmo, como se fosse se  consagrando. 
Fantástico: Com animal morto? 
Rosane: Mas não no mesmo local. Dormindo numa esteira, ficando ali vestido  com roupa branca. 
Fantástico: E ele fazia isso pedindo o quê? 
Rosane: Porque ele acreditava que pessoas que desejavam mal pra ele, fazendo  isso, o mal que as pessoas mandavam pra ele, voltava. 
Fantástico: Durante quanto tempo vocês fizeram esse tipo de ritual? 
Rosane: Quando eu conheci o Fernando ele já frequentava esses ambientes.  Enquanto a gente esteve casado, ele praticava. 
Rosane afirma acreditar que esses rituais deram origem ao que ela chama de  "Maldição do Collor", e que ela e Maria Cecília só escaparam por terem aceitado  Jesus. 
Rosane: Eu e a Cecília somos duas pessoas que estamos vivas. Eu não acredito  em coincidência, eu acredito em ‘jesuscidência’. E somos duas pessoas que  estamos vivas por ter aceitado Jesus. 
Fantástico: O que você chama de "Maldição do Collor"? 
Rosane: De as pessoas que tentaram prejudicá-lo. Vários exemplos morreram de  morte estranha. Eu acredito na maldição, de aquilo que quando você deseja o mal  para alguém, isso pode acontecer. 
Fantástico: Quantas pessoas morreram de maneira estranha? 
Rosane: Eu não sei quantas pessoas foram 
Fantástico: Quais foram as que você atribui a maldição? A mulher do PC  Farias? 
Rosane: É que é uma pessoa que não tinha muito carinho pelo Fernando. Ela não  gostava do Fernando. Agora jamais vou afirmar que o Fernando fez algum trabalho  para que ela fosse morta. 
Pedro Collor morreria em 1994, vítima de um câncer no cérebro. Dois anos  antes, as denúncias feitas por ele na revista Veja provocaram a criação de uma  CPI, e Collor tentou uma cartada: ele pediu o apoio popular. 
“Saiam no próximo domingo de casa com alguma peça de roupa com as cores da  nossa bandeira! Que exponham nas janelas! Que exponham nas suas janelas toalhas,  panos, o que tiver nas cores da nossa bandeira. Porque assim, no próximo  domingo, nós estaremos mostrando onde está a verdadeira maioria”, pediu Collor,  em 14 de agosto de 1992. 
Dois dias depois da conclamação, em vez de usar verde e amarelo, milhares de  jovens que ficariam conhecidos como caras-pintadas vão para as ruas vestindo  preto. E pedem o afastamento do presidente. 
Em junho, Collor tinha feito um pronunciamento em rede nacional negando que  mantivesse contato com PC Farias. 
“Há cerca de dois anos não encontro o senhor Paulo César Farias, nem falo com  ele. Mente quem afirma o contrário”, disse em 20 de junho de 1992. 
Hoje, Rosane, pela primeira vez, desmente o ex-marido. E diz que, por isso,  Collor tem medo do livro que ela está escrevendo: 
Fantástico: Quem você acha que está temendo hoje pelo lançamento do seu  livro? 
Rosane: Eu prefiro acreditar que tem pessoas que estão receosas. 
Fantástico: Quem? 
Rosane: O próprio Fernando, né? Porque eu acredito que eu vou contar coisas  que ele não gostaria de ser contada. 
Fantástico: Por exemplo? 
Rosane: Vou dar um exemplo forte. O PC continuava, ele tomava café da manhã  na Casa da Dinda. E ele disse que não, e acontecia. Uma vez por semana, ele  tomava café na Casa da Dinda com Fernando, presidente da República. Agora,  depois que começaram a sair as notícias ruins, aí ele nunca mais foi tomar café  na nossa casa. Até porque o PC era tesoureiro do Fernando na época da campanha.  Ele é quem fez toda a arrecadação, isso todo mundo sabe. 
Fantástico: E depois da campanha, depois de eleito, qual era a relação de  Fernando Collor de Mello com PC Farias? 
Rosane: De amizade, eles eram amigos. 
Fantástico: Mas no governo? 
Rosane: Eu acredito que ele tinha influência. Eu acredito não, eu tenho  certeza absoluta que o PC teve influência no governo. Tanto que ele tinha irmão  que foi ser da Saúde. 
Fantástico: Mas o Fernando Collor der Mello negou essa informação na época,  dizendo que ele não tinha contato com o PC Farias. Por que ele negou? 
Rosane: Não sei por que ele negou. 
Fantástico: Você perguntou pra ele? 
Rosane: Perguntei, ele disse que preferia que fosse assim. 
Fantástico: Quem tinha mais influência sobre Fernando Collor de Mello. Rosane  Collor ou PC Farias? 
Rosane: Nossa, eu acredito que o PC Farias. 
Rosane lembra que em 1993, quando foi decretada a prisão de PC Farias, a  mulher dele, Elma, saiu em defesa do marido: “O Paulo César não agiu sozinho,  ele teve alguém que mandou. O chefe maior foi quem mandou ele fazer isso.”,  disse na época. 
Fantástico: E o chefe era o Fernando Collor? 
Rosane: Eu acredito que, quando ela falou nessa entrevista, eu acredito que  ela tenha falado do Fernando. 
Rosane revela que, quando foi presidente da Legião Brasileira de Assistência  (LBA), teve problemas com PC Farias. 
Rosane: Uma certa manhã, nós estávamos tomando café da manhã na Casa da  Dinda, eu era presidente da LBA de fato, e no café da manhã eu fui conversar com  o Fernando e o PC estava lá, e eu disse que eu não gostaria que o PC viesse  interferir na LBA. 
Fantástico: Que tipo de interferência ele queria fazer? 
Rosane: Colocando muitas pessoas pra trabalhar em cargos importantes. 
Fantástico: Pessoas dele? 
Rosane: Pessoas ligadas a ele. Eu disse que eu não ia permitir. 
Fantástico: Isso coincidiu com a primeira crise do casal, no final de 1991?  
Rosane: Exatamente. Foi aí a grande crise que nós tivemos no casamento. 
Fernando Collor não se preocupou em esconder que durante o período de crise  no casamento andava sem a aliança. 
Rosane revela agora como o presidente e a primeira-dama mais jovens da  história eram assediados nos salões da política. 
Fantástico: Vocês eram um casal jovem, bonito. Tinha muito assédio sobre  vocês? 
Rosane: Com certeza. Eu acredito que de ambas as partes. 
Fantástico: Muita mulher dando em cima do Fernando Collor? 
Rosane: Muitas mulheres. 
Fantástico: Muito homens dando em cima de você também? 
Rosane: Com certeza. Isso é natural. Até pelo fato de a primeira-dama ser  jovem, até pelo fato do presidente ser jovem, ter 40 anos de idade. 
Fantástico: Você, como primeira-dama, foi assediada? 
Rosane: É normal. As pessoas olham, se encantam. 
Fantástico: Foi cantada? 
Rosane: Não sei se cantada, mas palavras mais gentis. 
Fantástico: Presentes? 
Rosane: É, ganhei. Presente de joias, e eu entregava pra ele. Para saber o  que eu fazia. 
Fantástico: Homens te mandando joias de presente? 
Rosane: É, de presente. Dava presente. Dizia: era presente para a  primeira-dama. Normal. 
Mais tarde, a própria Rosane foi afastada da presidência da LBA, sob  acusações de desvio de verbas. 
Rosane: Em relação a isso eu não faço mais nenhum comentário, porque o  Supremo Tribunal Federal me deu ganho de causa por unanimidade. 
PC Farias foi preso em 1993, e em 1996, quando estava em liberdade  condicional, foi encontrado morto em Maceió. A polícia concluiu que PC foi morto  pela namorada, que se suicidou em seguida, mas o crime nunca foi completamente  desvendado. 
Fantástico: Onde você e o Collor estavam quando o PC Farias morreu? 
Rosane: Nós estávamos no Taiti. 
Fantástico: Como que vocês receberam essa notícia? 
Rosane: Ele ficou preocupado. Agradeceu por não estar lá, porque poderia  passar na cabeça das pessoas que ele poderia estar envolvido. 
Fantástico: Você achou? 
Rosane: Não, em nenhum momento. Como acredito que ele não está envolvido na  morte do PC. 
O momento decisivo da carreira política de Fernando Collor de Mello aconteceu  no dia 24 de agosto de 1992. A CPI encarregada de investigar as denúncias contra  o presidente concluiu: “Os documentos apresentados hoje pela Comissão  Parlamentar de inquérito apontam as ligações do presidente Collor e de sua  família com o chamado esquema PC”, noticiou o Jornal Nacional em 24 de agosto de  1992 
Os documentos registram uma reforma de US$ 2,5 milhões na Casa da Dinda, a  mansão da família Collor, em Brasília; a compra de um carro Fiat Elba; e  despesas pessoais, tudo pago por cheques de fantasmas, ou seja, de pessoas  fictícias, inventadas, o que caracteriza crime contra a probidade na  administração, um crime de responsabilidade, cuja pena é a perda do cargo. A  votação do relatório pelo plenário da Câmara aconteceu no dia 29 de setembro de  1992. 
Fantástico: O momento do impeachment. O momento da votação. Onde você estava?  
Rosane: Nossa, foi muito tenso. Eu ia ficar com ele, eu queria assistir lá na  presidência, no Planalto. Mas ele falou que não queria. Que ele queria assistir  sozinho. E cada minuto, cada voto que era dado, ele ligava pra mim. Aí no  momento que ele viu que não tinha mais jeito, que realmente o impeachment ia  acontecer, ele realmente ficou desesperado. 
Fantástico: Quando vocês se encontraram depois disso, o que ele te falou?  
Rosane: Só nos abraçamos. Quando ele chegou em casa, nos abraçamos, eu tentei  acalmá-lo, tranquilizá-lo e dizer: ‘Vai passar, eu estou aqui contigo, eu vou  estar sempre do teu lado’. 
Em entrevista ao repórter Geneton Moraes Neto, no Fantástico, Fernando Collor  admitiu que pensou no pior, no suicídio. 
Rosane lembra que nesse momento ficou apavorada. 
Rosane: Eu procurei tirar as armas que tinham dentro de casa, eu tirei. Até  por precaução, porque num momento de desespero a pessoa pode fazer. Então eu  tentei. Durante muito tempo. Eu comecei a ter problema de insônia, porque eu já  não conseguia dormir. Eu ficava angustiada, achando que ele era capaz de fazer  alguma coisa. Então qualquer movimento dele, nos primeiros dias, se ele  levantasse da cama, eu tava com o sono tão leve, era uma coisa impressionante,  era tão leve meu sono que ele levantava e eu já acordava. Podia ser o que fosse,  eu acho que nem dormia. 
Fantástico: Ele ia pro banheiro... 
Rosane: Ele ia pro banheiro, eu já acordava e corria atrás dele. Ele dizia:  "Calma, Quinha, eu estou no banheiro". Eu achava que, não sei, que ele pudesse  cometer, porque foi tudo muito rápido, foi uma coisa muito rápida... 
Fantástico: Cometer suicídio? 
Rosane: Eu achei que ele pudesse cometer. 
Aprovado na Câmara, o pedido de impeachment seguiu para o Senado já no dia  seguinte, sendo também aprovado e dando início ao julgamento de Collor, que  deveria estar concluído em até 180 dias. Até lá, Collor ficaria afastado da  presidência temporariamente, sendo substituído pelo vice Itamar Franco, o que,  seguindo os trâmites oficiais, só aconteceu em 2 de outubro de 1992. Foi o dia  em que Collor desceu a rampa do Palácio do Planalto pela última vez. 
Rosane: Então, naquele momento, quando ele assinou, ele estava muito triste,  ele estava muito abatido, ele estava muito magro. Estava depressivo, já não  conseguia se alimentar direito. E naquele momento, quando ele assinou e nós  fomos descer a rampa e ele quis baixar a cabeça, eu segurei na mão dele, e  disse: ‘Vamos, levanta a cabeça, vamos em frente que a gente vai conseguir’.  
Em 29 de dezembro, o Senado se reúne sob o comando do então presidente do  Supremo Tribunal Federal, Sidney Sanches, para julgar se Fernando Collor era  mesmo culpado pelo crime de responsabilidade, apontado pela Câmara. Se  condenado, Collor continuaria afastado, não voltaria à Presidência e ficaria  inelegível por oito anos. Para escapar dessa punição e garantir seus direitos  políticos, ele tenta uma manobra de última hora: renuncia à Presidência. Mas a  tentativa não dá certo. Resultado: Fernando Collor é finalmente condenado. 
Na esfera criminal, dois anos depois, Collor enfrentou no STF a acusação de  corrupção passiva. Alegou que as despesas apontadas pela Câmara foram pagas com  sobras do dinheiro da campanha de 1989 e com um suposto empréstimo feito no  Uruguai. Collor alegou também desconhecer que suas contas eram pagas por meio de  cheques de fantasmas. Para condená-lo por corrupção passiva, era necessário que  a procuradoria provasse que Collor recebeu dinheiro em troca de favores e  serviços prestados a corruptores. Mas, no entendimento do STF, a procuradoria  não conseguiu nenhum documento que provasse isso de forma inequívoca. Por essa  razão, por cinco votos a três, o Supremo absolveu Collor da acusação de  corrupção passiva. 
Hoje, Rosane faz uma avaliação sobre o passado. 
Fantástico: Você tava preparada pra tanto poder? 
Rosane: Ah, não, de jeito nenhum, acho que a gente não tava preparado. 
Fantástico: Você se deslumbrou? 
Rosane: Eu acho que todo mundo se deslumbra. Eu acho que chega o momento que  a gente vê. Eu chegava e estava ao lado da princesa Diana. Eu estava jantando  com a princesa Diana. 
Collor voltou à política em 2002 e perdeu a eleição para o governo de  Alagoas. Em 2006, foi eleito senador pelo mesmo estado. A separação de Rosane e  Fernando Collor tinha ocorrido um ano antes, em 2005: 
Fantástico: Essa casa onde você vive é de quem? 
Rosane: Essa casa, hoje ela está, ele colocou porque ele tem um débito comigo  na pensão alimentícia. 
Segundo Rosane, a dívida de Collor é de R$ 950 mil. Ela briga na Justiça para  ter acesso a parte dos bens que o ex-marido acumulou na vida pública. Os dois  eram casados em regime de separação de bens. Quando casou, Rosane tinha 19 anos.  
Fantástico: Vocês se casaram em que regime? 
Rosane: Antes, em separação de bens total. Eu não sabia, eu achava que tinha  sido parcial. Eu achava que aquilo que ele tinha antes era dele. E aquilo que a  gente construísse seria nosso. Mas infelizmente, pela minha imaturidade, eu  assinei um documento que eu não sabia o que estava fazendo. 
Fantástico: Você pode dizer de quanto é sua pensão hoje? 
Rosane: É de R$ 18 mil reais. É a pensão que eu recebo. 
Fantástico: E você acha pouco? 
Rosane: Pela vida que ele tem, sim. Eu vejo amigas minhas que se separaram.  Agora há pouco tempo eu tenho um caso de uma amiga minha que se separou, o  marido não é ex-presidente, não é senador da República, e tem uma pensão de  quase R$ 40 mil. 
Fantástico: E você, o que sente por ele? 
Rosane: É aquilo que eu digo: o Fernando foi o grande amor da minha vida, mas  também foi minha grande decepção. 
Durante duas semanas, nós tentamos ouvir o senador Fernando Collor sobre as  declarações da ex-mulher, Rosane. no último contato, o ex-presidente respondeu  que não falaria "nem um minuto, nem meio minuto" sobre as revelações da  ex-primeira-dama. 
Procuramos também a pastora Maria Cecília, mas ela não quis receber a nossos  repórteres. Disse apenas que considera os rituais na Casa da Dinda assunto  encerrado. (Globo Extra - Fantástico)
 
 
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