terça-feira, junho 24, 2014

DONA MARY E O "BARBA" Crônica enviado pelo Advogado Piauiense JOSÉ RIBAMAR GARCIA

                 A Polícia Civil do Distrito Federal prendeu a sra. Jeany Mary Corner. Presa e conduzida ao presídio feminino de Brasília, batizado pelo nome de Colméia – certamente, em alusão às abelhas de mel ruim. Lá, compartilhará espaço com a não menos ilustre Simone Vasconcelos, condenada, juntamente com a cúpula petista e companhia, no processo do mensalão.

                    Jeany Mary Corner, para quem não se lembra, é aquela veterana do ramo de fornecimento de moças de programas para políticos sem programas. Seu nome veio à tona, em 2005, na CPI dos Correios, que originou o processo do mensalão. Sempre apareceu como abastecedora de jovens bonitas para as festas íntimas, patrocinadas por alguns ministros e parlamentares. Inclusive, àquelas organizadas pelo pessoal de Ribeirão Preto, numa mansão do Lago Sul de Brasília, às quais freqüentava o então ministro Antônio Palocci. É claro que ele, como bom petista, negaria sua presença, confirmada, porém, pelo caseiro Francelino, piauiense de fibra, que não medrou em dizer a verdade. Pagou muito caro por isso. O rapaz foi caluniado, injuriado, perseguido, teve até seu sigilo bancário violado junto à Caixa Econômica Federal.  Mas, manteve a verdade, e Palocci acabou extirpado do ministério.

                   Dona Mary era influente no governo de Lula. O mesmo Lula - atentai Comissões Nacional e Estaduais da Verdade - que o delegado Romeu Tuma Junior, no seu livro “Assassinato de Reputações”, revelou ter sido um prestimoso delator, versátil dedo duro, da ditadura militar, quando usava o codinome de “Barba” nos seus informes denunciantes (“Meu pai, para ações de segurança pública, usava os relatórios e caguetagens que Lula, o ‘Barba’, lhe fazia e prestava”, p. 22). O esperto metalúrgico, criado pelo general Golbery do Couto e Silva, portanto, filhote da ditadura, soube aproveitar os espaços proporcionados pela democracia.

                  De que dona Mary está sendo acusada? Da prática do crime de lenocínio, previsto no nosso velho Código Penal. Aliás, esse crime já devia ter sido descriminalizado. Bem que tentou o jornalista e escritor Fernando Gabeira. Quando deputado federal apresentou projeto de lei nesse sentido, que permanece dormitando nos escaninhos da Câmara - como centenas de outros relevantes ao País.

                   Sabe-se que a prostituição, em si, não é crime. Crime é seu favorecimento, sua exploração, sua intermediação, seu rufianismo. E o projeto previa a descriminalização do lenocínio para acabar com essas figuras. Tivesse sido aprovado, os donos de bordeis, de termas, de cabarés, das chamadas “casas de tolerância”, estariam arcando com os ônus trabalhistas das prostitutas. Elas se tornariam empregadas. Pois, nesses recintos, sempre estiveram sujeitas aos requisitos do vínculo empregatício, estampados na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Quais sejam: prestação de serviço não eventual e desempenhado pessoalmente. Além do cumprimento obrigatório de horário, recebimento de remuneração e subordinação ao dono do estabelecimento. Características do elo empregatício. Gabeira pretendia legalizar essa situação e, ainda, permitir ao estado a cobrança dos respectivos impostos. Sem dizer da redução da corrupção, pois, como sabido também, a maioria desses locais sempre foi extorquido por policiais inescrupulosos. 

                    Mas o projeto não andou, o crime continua em vigência e dona Mary acusada de cometê-lo.

                   De uma coisa é certa: dona Mary mostrou ter princípios e pudor necessário. Ao ser presa, não invocou a condição de presa política, como fizera o trio petista - José Dirceu, Genuíno e Delúbio. Teve senso do ridículo. Seu pecado crucial foi envolver-se com certos tipos de políticos. Misturar-se com essa gente, só para quem tem doutorado em banditismo e gangsterismo – exatamente, nessa ordem.

                    
                            JOSÉ RIBAMAR GARCIA – Membro da Academia Piauiense de Letras. E-mail: jrg@jrgadvogados.com.br -
                       . 

Nasci em Teresina, de onde saí aos 14 anos para viver no Rio de Janeiro,
onde continuo vivendo. Tenho ido ao Piauí, uma de minhas paixões, duas ou
três vezes ao ano. Casei com o Direito e me amasiei com a Literatura. Já
publiquei os seguintes livros; "Imagens da Cidade Verde" (crônicas sobre a
década de 60), " Cavaleiros da Noite" (contos), "Ao Lado do velho Monge" (
contos), "Prá onde vão os Ciganos?"(Contos), "Além das Paredes"
(Crônicas), "Ressonância" (Crônicas), "Em Preto e Branco" (Romance),
"Entardecer" (Romance), "Filhos da Mãe Gentil" (Romance) e "Contos da
Minha Terra" (Contos ambientados no Piauí). Alguns desses livros têm sido
indicados nas escolas piauienses. Sou membro da Academias Piauienses de
Letras e da Academia de Letras do Alto Longá, para minha satisfação e
honra. E colaboro com duas crônicas mensais para o jornal "Diário do
Povo".


JOSÉ RIBAMAR GARCIA - Colaborador direto  do Rio de Janeiro

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